
Comprei uma bike elétrica igual a aí de cima e resolvi criar esse blog para discutir algumas questões em torno desse meio de transporte. Tenho certeza que, num futuro próximo, as cidades estarão repletas delas. Aqui, pretendo abordar questões relacionadas à mobilidade urbana e à escolha pela bicicleta elétrica, além de trazer muita informação técnica sobre esse equipamento.
Mas gostaria de começar contando um pouco como cheguei à minha decisão de comprar uma bike elétrica.
Há pouco mais dois anos resolvi vender meu carro. O meu primeiro patrimônio, conquistado a duras penas com ajuda de um financiamento, de repente deixou de ter importância para mim. Estava cansado do trânsito, do preço da gasolina, do seguro, do estresse dos outros motoristas, enfim, estava cansado de ter carro.
As razões pra isso podem ser melhor compreendidas no excelente livro "Apocalipse Motorizado", organizado por Ned Ludd, mas para além dos motivos racionais, eu tinha um sentimento que pode ser reduzido em uma palavra: chega!
A idéia teve de ser amadurecida, mas bastou eu precisar de um pouco mais de grana para matricular minha filha em uma escola melhor (e mais cara) para eu colocá-la em prática. A minha família passou a ter um carro só. Ele fica com a minha mulher, já que a gente ainda precisa dele para viajar e me parecia penoso demais envolver ela e meus dois filhos pequenos (um deles recém nascido na época) em minha "aventura cidadã".
Carro vendido, passei a usar o transporte público. Sempre me interessei pela cobertura deste tema como jornalista e a idéia de ser um dos milhões de pessoas que se locomovem diariamente em trens, ônibus e metrôs me parecia bacana, apesar de conhecer bem a realidade precária dos sistemas de transporte em São Paulo. Pode parecer estranho, mas me seduzia a idéia de provar para mim mesmo que não precisava do carro para viver.
Assim, tem sido. Todos os dias vou e volto para o trabalho de busão. Seria exagero dizer que sofro, uma vez que faço um trajeto de sete quilômetros, com apenas uma condução e, em geral, não enfrento ônibus lotados. A disponibilidade de ônibus na linha também não é das piores.
Mas vamos enfrentar os fatos: o transporte público em São Paulo é ruim e caro. Por mês, gasto R$ 108 só para ir e voltar do trabalho. O trajeto é feito em meia hora, sendo quase a metade dele de caminhada. Mas de carro, por caminhos alternativos, conseguiria diminuir esse tempo pela metade e não gastaria muito mais dinheiro que isso. Não me arrependo da decisão por uma questão de pura consciência, mas abandonar o carro em São Paulo, na ponta do lápis, para a grande maioria das pessoas não vale a pena. É simples assim.
Alguns estudos mostram que essa conta fica mais vantajosa para o lado do transporte público quanto mais se aumenta a distância dos deslocamentos, mas o conforto do carro ainda é parece ser maior, ainda que ele permaneça parado no trânsito.
Muitos cicloativistas vão discordar dessa análise e apresentar o crescimento do número de ciclistas como um fato incontestável de que cada vez mais pessoas deixam seus carros na garagem e se aventuram pelas ruas de pedal justamente porque sim, vale a pena. Mas tenho a impressão que isso acontece muito mais por uma questão subjetiva, mais relacionada ao desepertar de uma consciência (ao longo prazo, a invasão contínua dos carros inviabilizará a vida na cidade), do que a uma visão mais imediatista, que sempre prevalece, de se fazer as contas de tempo e dinheiro perdido no trânsito.
É aí que entra a Bike Elétrica. Desde que vendi meu carro, andar de bicicleta parecia uma opção óbvia. Alguns amigos que já tinham adotado a bike no dia dia cansaram de me elencar motivos para adotar o mesmo estilo de vida. Falavam sobre o tempo economizado, sobre o exercício realizado, sobre a camaradagem entre os ciclistas...
Argumentos muito sensatos e cativantes, mas que esbarravam em dois grandes entraves. O primeiro é que eu moro em uma travessa da Av. Heitor Penteado e qualquer trajeto implica, necessariamente, em subir e descer ladeiras. Até aí, pernas para que te quero? Mas, então, surge o segundo entrave: eu tenho de trabalhar de terno e gravata e estar minimamente apresentável para aparecer diante de uma câmera de televisão.
"O que há demais nisso?" Perguntariam os ciclistas convertidos. "É só tomar um banho no trabalho, ou levar uma muda de roupa na mochila", argumantariam com assertividade. Pode até parecer frescura, mas não dá para negar que essa escolha não seja trabalhosa.
Um amigo faz isso todos os dias e classifica a compra da bike elétrica de pura viadagem de minha parte, mas omite o fato de tomar banhos na pia do banheiro e usar o cabelo quase raspado para não parecer muito suado quando chega ao trabalho.
Muitas pessoas com quem conversei, desde que iniciei minha pesquisa na compra da bike elétrica, há cerca de dois meses, me disseram que não aderiram a bicicleta justamente por conta desses problemas. Eles não são pequenos, implicam em mudanças penosas no estilo de vida que nem todo mundo está disposto a fazer. Muitas pessoas gostariam de ter um meio de transporte mais ágil, eficiente e saudável, mas se isso implicar em ter de levar roupa para cima ou para baixo, ou ter de fazer paradas estratégicas na frente do espelho antes de chegar a uma reunião no escritório de um cliente, elas vão preferir o carro. Isso já acontece, é fato!
Eu, sinceramente, acredito que a bike elétrica pode resolver essa questão. Há quem diga que a escolha por uma bike elétrica não se difere muito da compra de um moto. Pretendo abordar esse assunto em um post específico, mas a afirmação não é correta em pelo menos dois aspectos:
1) Motos e bicicletas são vistos pelos outros motoristas como coisas muito distintas. O porte, a velocidade e as características de cada veículo também propiciam experiências completamente diferente para quem dirige.
2) Bike, elétrica ou não, não polui. E isso é uma coisa importante numa cidade que mata lentamente seus habitantes por conta da fumaça expelida pelos carros e, principalmente, pelas motos.
É nisso que eu acredito, por isso comprei uma bike elétrica e decidi fazer esse blog.
Minha bike elétrica, no momento em que escrevo este post, deve estar dentro do baú de um caminhão vindo do Rio de Janeiro para São Paulo. Aqui, vou contar todos os passos da minha aventura pela cidade. Conto com sua participação para me ajudar a descobrir se estou certo.