sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Post Inaugural - uma decisão difícil


Comprei uma bike elétrica igual a aí de cima e resolvi criar esse blog para discutir algumas questões em torno desse meio de transporte. Tenho certeza que, num futuro próximo, as cidades estarão repletas delas. Aqui, pretendo abordar questões relacionadas à mobilidade urbana e à escolha pela bicicleta elétrica, além de trazer muita informação técnica sobre esse equipamento.

Mas gostaria de começar contando um pouco como cheguei à minha decisão de comprar uma bike elétrica.

Há pouco mais dois anos resolvi vender meu carro. O meu primeiro patrimônio, conquistado a duras penas com ajuda de um financiamento, de repente deixou de ter importância para mim. Estava cansado do trânsito, do preço da gasolina, do seguro, do estresse dos outros motoristas, enfim, estava cansado de ter carro.

As razões pra isso podem ser melhor compreendidas no excelente livro "Apocalipse Motorizado", organizado por Ned Ludd, mas para além dos motivos racionais, eu tinha um sentimento que pode ser reduzido em uma palavra: chega!

A idéia teve de ser amadurecida, mas bastou eu precisar de um pouco mais de grana para matricular minha filha em uma escola melhor (e mais cara) para eu colocá-la em prática. A minha família passou a ter um carro só. Ele fica com a minha mulher, já que a gente ainda precisa dele para viajar e me parecia penoso demais envolver ela e meus dois filhos pequenos (um deles recém nascido na época) em minha "aventura cidadã".

Carro vendido, passei a usar o transporte público. Sempre me interessei pela cobertura deste tema como jornalista e a idéia de ser um dos milhões de pessoas que se locomovem diariamente em trens, ônibus e metrôs me parecia bacana, apesar de conhecer bem a realidade precária dos sistemas de transporte em São Paulo. Pode parecer estranho, mas me seduzia a idéia de provar para mim mesmo que não precisava do carro para viver.

Assim, tem sido. Todos os dias vou e volto para o trabalho de busão. Seria exagero dizer que sofro, uma vez que faço um trajeto de sete quilômetros, com apenas uma condução e, em geral, não enfrento ônibus lotados. A disponibilidade de ônibus na linha também não é das piores.

Mas vamos enfrentar os fatos: o transporte público em São Paulo é ruim e caro. Por mês, gasto R$ 108 só para ir e voltar do trabalho. O trajeto é feito em meia hora, sendo quase a metade dele de caminhada. Mas de carro, por caminhos alternativos, conseguiria diminuir esse tempo pela metade e não gastaria muito mais dinheiro que isso. Não me arrependo da decisão por uma questão de pura consciência, mas abandonar o carro em São Paulo, na ponta do lápis, para a grande maioria das pessoas não vale a pena. É simples assim.

Alguns estudos mostram que essa conta fica mais vantajosa para o lado do transporte público quanto mais se aumenta a distância dos deslocamentos, mas o conforto do carro ainda é parece ser maior, ainda que ele permaneça parado no trânsito.

Muitos cicloativistas vão discordar dessa análise e apresentar o crescimento do número de ciclistas como um fato incontestável de que cada vez mais pessoas deixam seus carros na garagem e se aventuram pelas ruas de pedal justamente porque sim, vale a pena. Mas tenho a impressão que isso acontece muito mais por uma questão subjetiva, mais relacionada ao desepertar de uma consciência (ao longo prazo, a invasão contínua dos carros inviabilizará a vida na cidade), do que a uma visão mais imediatista, que sempre prevalece, de se fazer as contas de tempo e dinheiro perdido no trânsito.

É aí que entra a Bike Elétrica. Desde que vendi meu carro, andar de bicicleta parecia uma opção óbvia. Alguns amigos que já tinham adotado a bike no dia dia cansaram de me elencar motivos para adotar o mesmo estilo de vida. Falavam sobre o tempo economizado, sobre o exercício realizado, sobre a camaradagem entre os ciclistas...

Argumentos muito sensatos e cativantes, mas que esbarravam em dois grandes entraves. O primeiro é que eu moro em uma travessa da Av. Heitor Penteado e qualquer trajeto implica, necessariamente, em subir e descer ladeiras. Até aí, pernas para que te quero? Mas, então, surge o segundo entrave: eu tenho de trabalhar de terno e gravata e estar minimamente apresentável para aparecer diante de uma câmera de televisão.

"O que há demais nisso?" Perguntariam os ciclistas convertidos. "É só tomar um banho no trabalho, ou levar uma muda de roupa na mochila", argumantariam com assertividade. Pode até parecer frescura, mas não dá para negar que essa escolha não seja trabalhosa.

Um amigo faz isso todos os dias e classifica a compra da bike elétrica de pura viadagem de minha parte, mas omite o fato de tomar banhos na pia do banheiro e usar o cabelo quase raspado para não parecer muito suado quando chega ao trabalho.

Muitas pessoas com quem conversei, desde que iniciei minha pesquisa na compra da bike elétrica, há cerca de dois meses, me disseram que não aderiram a bicicleta justamente por conta desses problemas. Eles não são pequenos, implicam em mudanças penosas no estilo de vida que nem todo mundo está disposto a fazer. Muitas pessoas gostariam de ter um meio de transporte mais ágil, eficiente e saudável, mas se isso implicar em ter de levar roupa para cima ou para baixo, ou ter de fazer paradas estratégicas na frente do espelho antes de chegar a uma reunião no escritório de um cliente, elas vão preferir o carro. Isso já acontece, é fato!

Eu, sinceramente, acredito que a bike elétrica pode resolver essa questão. Há quem diga que a escolha por uma bike elétrica não se difere muito da compra de um moto. Pretendo abordar esse assunto em um post específico, mas a afirmação não é correta em pelo menos dois aspectos:

1) Motos e bicicletas são vistos pelos outros motoristas como coisas muito distintas. O porte, a velocidade e as características de cada veículo também propiciam experiências completamente diferente para quem dirige.

2) Bike, elétrica ou não, não polui. E isso é uma coisa importante numa cidade que mata lentamente seus habitantes por conta da fumaça expelida pelos carros e, principalmente, pelas motos.

É nisso que eu acredito, por isso comprei uma bike elétrica e decidi fazer esse blog.

Minha bike elétrica, no momento em que escrevo este post, deve estar dentro do baú de um caminhão vindo do Rio de Janeiro para São Paulo. Aqui, vou contar todos os passos da minha aventura pela cidade. Conto com sua participação para me ajudar a descobrir se estou certo.

7 comentários:

  1. Nara, que orgulho saber que você está encabeçando esta batalha. Nota dez para a iniciativa e coragem. Tomara que eu siga os seus passos, digo, pedaladas.
    Flavio Sampaio

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  2. Valeu Flávio!!! Tem mais posts no forno. Fiz uma pesquisa bem ampla sobre e-bikes e acho que ela poderá ajudar as pessoas a tirarem um pouco as dúvidas sobre o tema.

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  3. Ei Ricardo, parabéns pelo blog!!!

    Sou fissurada pelas bikes elétricas. Também estou sem carro - roubaram o meu aqui no Rio e aproveitei pra me livrar desse peso na vida - e ando me virando com ônibus e metrô, apesar de não ter o segundo perto de casa. Ando muito a pé também, mas, toda vez que passa uma bike elétrica, fico doida. Adoro a leveza, agilidade e o conceito de sustentabilidade que ela carrega.

    Como vc, também acredito que nos próximos anos as cidades vão estar lotadas desse tipo de bicicleta, aqui no Rio elas tem sido cada vez mais comuns. Se gosto tanto, pq ainda não comprei? Tenho uma questão que talvez vc consiga desvendar pra mim. Moro em cima de um morro, ladeira super íngreme e as bikes que pesquisei não sobem ângulos tão inclinados. Poderia até pedalar esse trecho (ficando muito cansada, óbvio, só vejo uniformizados fazendo isso pelo lado de cá), mas as versões elétricas que conheço são muito pesadas, o que dificultaria ainda mais o trajeto.

    Pelo que entendi, a sua bike ainda não chegou, mas como vc mora também perto de ladeira, já deve ter pensado nisso. Algum modelo especial??? Se tiver a resposta, por favor, me dê uma luz! Ah, tô na torcida aqui pra que vc adore seu novo meio de transporte. beijos pra vc e família (tem bebê na área, né? a Ana deve estar imensa!)!

    Ludmila

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  4. Gostei das informações, Ricardo. E foi bom porque também vi que minha nova amiga, Ludmila, tem um blog de reaplicabilidade de ideias.
    Sobre a bike elétrica: quantas informãções, hein? E você agora já faz o trajeto regular entre sua casa e o trabalho de bike elétrica mesmo? Tem sempre uma questão que me preocupa: o perigo cotidiano do trânsito, seja ele paulistano ou carioca. Você tem medo ou isso nem te passa pela cabeça?
    Sucesso!

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  5. Lud, quanto tempo... nem sabia que vc estava morando no Rio!!! Aproveita porque aí está a maioria das representações de e-bikes no Brasil. Quanto às suas perguntas, o que posso te responder é que eu decidi tirar essas prova pessoalmente, porque os fabricantes não especificam a capacidade de subir ladeiras em seus sites, ou manuais. Em parte porque isso depende da potência do motor, do peso da bike e de quem está em cima dela e da inclinação da ladeira. Muito provavelmente, vc terá de pedalar, mas o esforço será (ou pelo menos deve ser) compensado pelo motor. A questão principal é peso, dá uma olhada no post sobre a equação da e-bike. Eu recomendo bikes com baterias de ion-litio e motores sem escovas. O conjunto todo não deve pesar mais que 25 quilos. Com um kit de adaptação vc pode conseguir peso inferior a isso, dependendo da sua bike.

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  6. Tânia,

    Obrigado pelos comentários. Minha bike ainda não chegou, não vejo a hora de isso acontecer!!! O primeiro trajeto será devidamente comentado aqui no blog. Quanto ao trânsito, esse é um problema que se enfrenta com bike elétrica ou não. Dá um pouco de receio, sim, mas vc tem de se impôr. Quem fica acuado acaba sendo engolido pelos carros. Tem jeito certo de fazer isso e rola um monte de informação na internet. O pessoal do Transporte Ativo e da Escola de Bicicleta dão várias dicas legais. O negócio é tomar coragem e meter a cara!!!

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  7. Olá Ricardo!

    Cheguei aqui pelo teu email para as Pedalinas e acho que poderemos conversar muito.

    Moro na Pompéia e nos últimos meses tenho tentado adotar a bicicleta como meio de locomoção, mas andava esbarrando nas ladeiras.

    Há duas semanas participei de um passeio da Porto Seguro e eles me emprestaram a bike deles (a Felisa) e fiquei apaixonada.

    Agora tenho pensado em comprar um kit para adaptar a minha. tenho uma Dahon de aro 20, será que acho kits para ela? passa lá no blog (smiletic.com) para ver meu relato e adoraria trocar ideias contigo.

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