segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Bikes e o transporte público

Hoje, o recém empossado secretário de Transportes Metropolitanos do estado de São Paulo, Jurandir Fernandes, deu uma entrevista para a  para os excelentes jornalistas Cátia Seabra e Alencar Izidoro, da Folha de S. Paulo, em que afirma o seguinte:

"Quero ver se a história de alugar bicicleta (nas estações de Metrô) é eficiente, útil ou se foi marketing."

Acho natural o secretário iniciar um processo de revisão de contratos. Afinal de contas, se trata de um novo governo, ainda que essa seja a quinta gestão do PSDB no estado.

Mas preferiria que o secretário fosse um pouco mais cauteloso. 

Mais à frente ele continua:

"Sou apaixonado por ciclovia. Mas não quero fazer marketing com coisa séria. Vale todo mundo dizer que em São Paulo tem um sistema de bicicletas igual ao de Paris e depois eu ter que explicar que não é bem assim? Não consigo explicar o inexplicável. Agora, se disserem que há utilização impressionante, juro que aumento tudo."

É preciso pôr alguns "pingos nos is".

Os bicicletários  implantados nas estações de metrô são uma iniciativa da Porto Seguro. Obvialmente, a empresa se beneficia do marketing de mantê-los em pontos de altíssima circulação, mas também traz benefícios para os usuários de bikes que encontram lugar onde deixar as magrelas enquanto se locomovem de metrô. Os associados da Porto ainda podem pegar bikes da própria empresa, usá-las e devolvê-las para o bicicletário.

É uma relação de ganha-ganha entre o público e o privado. O próprio partido do governador já defendeu as chamadas PPP's em inúmeras ações, onde o estado não consegue intervir fortemente.

Em São Paulo, essa é uma das poucas iniciativas para aumentar o uso de bike no dia a dia. Ela partiu unicamente de uma empresa privada. Seria tolice pensar que, sozinha, ela teria condições de promover a mesma revolução obtida em Paris, exemplo citado pelo próprio secretário.

Lá, o poder público investiu pesado na construção de uma rede de bicicletas espalhada pela cidade (as Velibs) e na construção de centenas de quilômetros de ciclovia. 

Outras cidades européias há anos investem nesse tipo de transporte, como é o caso de Amsterdã, Kopenhagen, entre outras. 

A frase: "se disserem que há utilização impressionante, juro que aumento tudo" representa um certo alento, porque evidencia que o Secretário parece estar disposto a pensar no assunto, mas também mostra o quanto o poder público ainda reluta em apostar nas bikes como alternativas reais de transporte para a cidade.

Ora, o público só vai adotar a bike quando se sentir seguro para tal.

Sem a criação da rede de bike e de uma malha razoável de ciclovias, nada acontece em grande escala!

O modelo para isso poderia contar com inicitiva privada, que poderia, por exemplo, gerenciar o sistema, em troca da receita das tarifas cobradas pelo aluguel das bikes.

Mas sem a participação do estado, prar propor o modelo, regulamentar o setor e promover a concorrência, fica difícil!

É papel do poder público incentivar o uso do transporte coletivo e de outras alternativas para a mobilidade.

Infelizmente, nossos governantes parecem esquecer essa lição tão elementar.

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