quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

É nóis no Tatuapé!!!

Não é fácil para um jornalista mudar de lado do balcão. 

Acostumado a fazer perguntas, eu tive de respondê-las para uma reportagem que a jornalista Maisa
Infante estava realizando para a Revista do Tatuapé. 

Confesso que depois de terminada a entrevista (feita por MSN, porque eu estava afônico no dia e tinha de preservar a voz para trabalha no dia seguinte), fiquei ressabiado. Não por desconfiar do trabalho da colega, mas por ter a mesma sensação de muitas das minhas "vítimas diárias".  

"O que será que vai ser publicado? Será que ela vai dar destaque aos pontos mais importantes? Falei alguma besteira?", me perguntava...

Mas a Maísa foi super profissional e fez uma reportagem com "R" maiúsculo. 

Eu fiquei contente por ver a competência da colega e por saber que tem uma revista de bairro na cidade com excelência jornalística. 

Atuo também para mudar a cara da comunidade onde moro, num movimento de ação local, o Boa Praça linkado aí do lado, e já vi muito jornalão falar bobagens sem nenhum pudor!!! 

Longa vida à Revista do Tatuapé!!!

Segue  o texto da reportagem:




Sobre duas rodas

Ainda pouco conhecidas, as bicicletas elétricas são uma alternativa saudável e não poluidora para quem precisa percorrer curtas distâncias

Por Maisa Infante

O jornalista Ricardo Ferraz trabalha a cinco quilômetros de casa e gasta 11 minutos para ir e 14 para voltar. E ele não vai para o trabalho de carro. Vai de bicicleta. E elétrica! Ricardo pode se dar ao luxo de dizer que faz parte de um seleto grupo de pessoas que encontrou uma alternativa confortável e, ao mesmo tempo, sustentável para se locomover em São Paulo. Claro que ele tem a vantagem de morar e trabalhar na mesma região. Mas, ainda assim, se optasse pelo carro poderia levar mais tempo, já que correria o risco de enfrentar congestionamentos pelo caminho. Sem contar que, com a bicicleta elétrica, ele não polui, ocupa menos espaço, observa melhor a cidade e ainda conhece mais pessoas.

Há cerca de três anos, irritado, como quase todo paulistano, com o trânsito, Ricardo decidiu vender o carro e começar a andar por aí de transporte público. Em meia hora de ônibus ele estava no trabalho.

Na ponta do lápis, garante, os gastos eram praticamente os mesmos do que se fosse de carro. Portanto, ele faz questão de dizer que, além de não ter mais vontade de enfrentar o trânsito, fez isso por saber que estaria contribuindo para uma cidade melhor. "Vamos enfrentar os fatos: o transporte público em São Paulo é ruim e caro. Não me arrependo da decisão por uma questão de pura consciência. Mas abandonar o carro em São Paulo, na ponta do lápis, para a grande maioria das pessoas não vale a pena".

Antes de optar pela bicicleta elétrica, Ricardo ouviu muitas pessoas dizerem que deveria aderir à bike comum. Mas ele sabia que precisaria mudar radicalmente sua rotina, carregando roupas para cima e para baixo e procurando lugar para tomar banho quando chegasse ao trabalho. A bicicleta elétrica, então, se mostrou a melhor alternativa. Apesar de também pedalar, ele faz muito menos esforço do que faria em uma bicicleta. "Vou trabalhar de terno e gravata pedalando! Nesse calor eu suo um pouquinho, mas se estivesse andando na rua também suaria. Bem diferente de um exercício da bike convencional", conta. Ainda assim, perdeu 3 kg em um mês por causa do exercício.

As bicicletas elétricas, em geral, são veículos híbridos, que funcionam, ao mesmo tempo, com um motor e com as pedaladas humanas. "Uma forma de propulsão não exclui a outra. Se não fosse assim, estaríamos diante de uma motocicleta, veículo com o qual as bicicletas elétricas não devem guardar nenhuma semelhança além das duas rodas", explica Fábio Grassi, um advogado que pesquisa e usa as bicicletas elétricas. Na prática, isso significa que o ciclista tem um ganho de desempenho com a ajuda do motor, principalmente nas subidas. "Ela anda com a mesma velocidade, tem o mesmo porte e se comporta no trânsito da mesma maneira de uma bike convencional. A grande diferença quem sente é o ciclista, que não precisa fazer tanto esforço para percorrer a cidade", analisa Ricardo.

A autonomia de uma bicicleta elétrica depende de alguns fatores, como a potência do motor e o peso. No caso da que Ricardo comprou, pode chegar a uns 35 km. "A bike tem dois tipos de acionamento do motor. No primeiro você gira o manete e o motor anda. Nesse modo rodo uns 18 km. Mas também dá pra acionar o motor pelo auxílio pedal. Funciona assim: você vai pedalando e ele te dá uma forcinha automaticamente. Nesse modo chego a uns 35 km. Mas isso também depende da topografia do terreno e do peso", explica.

Enquanto uma bicicleta normal pesa cerca de 16 kg, a elétrica pode chegar a mais de 30 kg. Isso faz com que seja mais difícil pedalar sem a ajuda do motor (o que, aliás, não deve ser a intenção de quem decide comprar uma bicicleta elétrica). "A bike tem de ser o mais leve possível, de preferência com bateria de lítio, que dura mais e pesa menos. A potência do motor nem sempre é importante. As pessoas tendem a achar que quanto mais potente melhor, mas isso não é verdade. Motores muito potentes têm baixa autonomia e exigem muita bateria, além de serem mais pesados", avalia.

Ideal para deslocamentos curtos, a bicicleta elétrica é um veículo que tem tudo para ser o aliado perfeito de uma cidade menos poluída, mais gentil e menos estressante. "O uso do solo, o trânsito, o clima e a saúde pública seriam altamente beneficiados com sua adoção. E isso sem falar na integração da bicicleta com transportes coletivos. Sei que estamos muito distantes disso, mas devemos sempre pensar no futuro. O trânsito está próximo de se tornar um problema insolúvel. Muitas cidades enfrentam essa situação hoje, e muitas ainda irão enfrentar, com uma distribuição mais igualitária de renda", analisa Fábio. Pensando nisso, algumas empresas já desenvolveram suas bicicletas elétricas. A Porto Seguro, por exemplo, comercializa um modelo chamado de Felisa. A Peugeot também se rendeu e desenvolveu um modelo, por enquanto vendido apenas na Europa.

Para o ambientalista e consultor de mobilidade sustentável Lincoln Paiva, o uso de bicicletas, elétricas ou não, é o melhor indicador de cidades sustentáveis e sadias. "Bicicletas são positivas para a cidade e para melhoria da qualidade de vida das pessoas, reduzem as emissões de CO2 e, principalmente, de gases tóxicos, que matam muitas pessoas por ano nas grandes cidades como São Paulo", diz.
E o gasto de energia elétrica, segundo especialistas, não é alto. "Uma bicicleta elétrica precisa de pouco mais de 300 watts/hora para rodar aproximadamente 30 km, o que equivale a um banho de aproximadamente 4 minutos", avalia Fábio. "O consumo é pequeno. Além disso, o número de pessoas utilizando bicicleta elétrica seria baixo, em torno de 1% dos deslocamentos. Em 2020 teremos cerca de 1 bilhão de transistores por pessoa no mundo, e a demanda de energia vai continuar crescendo independente das bicicletas, carros e motos elétricas. Há menos de 10 anos os aparelhos consumiam o triplo de energia. Hoje temos muito mais aparelhos consumindo muito menos energia. As empresas estão estudando baterias mais eficientes e mais ecológicas", explica Lincoln.

Um dos maiores desafios dos ciclistas é enfrentar uma cidade que ainda não está preparada para esse tipo de transporte. Nem é preciso dizer que o maior problema é o trânsito e a falta de respeito dos motoristas. Por outro lado, quem já usa a bicicleta no dia a dia diz que é possível estabelecer um outro tipo de relação com cidade andando sob as duas rodas da magrela. "Não fico parado no trânsito, ganho tempo, faço exercício e descubro a cidade de uma outra forma, mais livre, sem ficar encarcerado na moldura da janela do carro", diz Ricardo, que fez amizade com um vigia da rua em que passa todos os dias e fica feliz quando cruza com outros ciclistas e eles se cumprimentam. "É como se você saísse para dar uma volta de bike pela cidade todos os dias".


LEGISLAÇÃO
As discussões sobre bicicletas elétricas sempre esbarram na legislação. Pela lei brasileira, elas são equiparadas aos ciclomotores, o que gera uma série de dificuldades. Fábio Grassi analisa alguns pontos da legislação:

- "Elas são equiparadas ao ciclomotores e recebem a denominação de cicloelétricos. Como tal, ficam sujeitas às normas municipais no que se refere ao registro (emplacamento). Na prática, nenhuma prefeitura do Brasil regulamentou essa situação, e ela estaria, então, isenta de registro".

- "Precisam ser conduzidas por habilitados ao menos na categoria ACC (Autorização para Condução de Ciclomotores). Na prática, os exames, provas e custos para obter tal autorização são os mesmos da obtenção da categoria A (motocicletas), então essa categoria está praticamente "morta". Existem Detrans que nem mesmo emitem essa habilitação".

- "Para essa condução, seria necessário o uso de capacete com selo do Inmetro. Todos os capacetes foram desenvolvidos visando a proteção do risco que uma motocicleta impõe ao seu condutor. Jamais se pensou num ciclista. E o motociclista não exerce atividade física. Não é o que ocorre numa bicicleta híbrida elétrica. Assim, o uso de capacetes de motocicletas é inviável em pedaladas".

Um comentário:

  1. Ricardo, fico feliz que tenha gostado da matéria. E lisongeada com os elogios de um colega de profissão. Realmente, tentamos mostrar com a nossa publicação que as revistas de bairro não precisam ser ruins, como muita gente pensa.

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